sábado, novembro 12, 2005

"Just living is not enough. One must have sunshine, freedom, and a little flower."

- Hans Christian Andersen

quinta-feira, dezembro 02, 2004

BLOG


Hoje a palavra BLOG foi oficialmente criada, com a entrada no dicionário oficial da Língua Inglesa (embora tenha acontecido nos EUA).

Que data melhor do que esta para fechar o meu próprio Blog?

As estatísticas dizem-nos que existem quase 5 milhões de blogs, dos quais apenas 1 milhão são actualizados com frequência. E dizem-nos que um Blog dura, em média, 3 meses (o meu durou mais!!!). E que a cada 6 segundos é criado um novo Blog, mas que apenas 1 deles sobrevive algum tempo.

Gostei de estar aqui e de conhecer toda a gente que me visitou, comentou ou contactou.

Não me despeço - continuarei com o e-mail disponível (e às vezes no Messenger).

Mas o SPOT morreu.

Viva o SPOT!

sexta-feira, novembro 26, 2004

O Resto da Tua Vida


A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burborinho
bebem-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se e come-se se alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Depois vem cansaço e o corpo frequeja
molha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


E enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Entretanto o tempo fez cinza da brasa
outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


O Primeiro Dia - Sérgio Godinho

Estaremos nós condenados a um eterno recomeço?
Não haverá nada que perdure?
"Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe" será mesmo verdade?
Então para quê tudo isto? Apenas para começar de novo?
E não se cansam?

...Eu estou cansado...

Aventuras de Pedro, Sentado


Sentado,
O queixo apoiado na sua mão esquerda
A mão direita pousada sobre as pernas trocadas
E a caneta
E o bloco
E palavras acabadas de escrever
E reticências...
E pontos de interrogação?

Sentado,
Olha o Infinito
Infinito restrito às quatro paredes do quarto
E o papel de parede caindo verticalmente de alto a baixo
E a madeira em rectas, no tecto
E o candeiro luminoso no centro
E a música...
A música do rádio deixado no chão
- Os sons estereotipados do momento
E, de repente,
O silêncio
...Que não acontece!
A música continua
E ele continua

Sentado,
Os olhos fixos no nada
E a estante
E os livros
As palavras escritas pelos outros
E a mesa de cabeceira
E as fotografias
E as palavras nunca ouvidas

Sentado,
A caneta imóvel
O bloco vazio
As palavras que não existem
E o cérebero delira textos nunca escritos
E que nunca ninguém lerá
E a boca declama poemas nunca ditos
E que nunca ninguém ouvirá
E que nem ele recordará daí a pouco

Sentado,
Sonha de olhos abertos.

Sentado,
Dorme acordado.

Sentado,
Vive morto.

PO 01/1990

sábado, novembro 20, 2004

Pode?


Pode alguém ser quem não é?

É estranho no ventre
ser de outro lugar
e tão confusamente
ver desmoronar
um a um sonhos sãos
duas mãos
passando da alegria ao desamor

Pode alguém ser livre
se outro alguém não é
a algema dum outro
serve-me no pé
nas duas mãos,
sonhos vãos,
pesadelos diz-me:

Pode alguém ser quem não é?

Pode alguém ser quem não é - Sérgio Godinho (excerto)

A mim parece-me que sim, que pode... E a vocês?

domingo, novembro 14, 2004

Fim Anunciado


Ao longo dos meses em que estive on-line, blogs apareceram e desapareceram.
Uns para sempre, outros migrando para outras esferas.

Nos que mudavam, registava-se apenas uma mudança de formato, de tema, de quebra com o passado; noutros assistia-se a uma transformação de personalidade, de opinião, de tudo - fazendo esquecer o autor do antigo.

Mas muitos acabaram definitivamente.
Morreram.
Dissiparam-se, sem deixar traço.

Normalmente anunciam o seu fim no próprio momento em que este acontece - com um último post.
Depois, durante algum tempo, registam-se as reacções dos leitores, nos comentários (eventualmente com resposta do autor).

Alguns acabam sem aviso, sem R.I.P. - os visitantes vão lá e nunca mais houve publicação de posts.

Muito raramente, o próprio blog é retirado, sem aviso, deixando-nos perdidos para sempre, sem poder registar a nossa frustração.

Tudo isto para vos dizer, com antecedência, que este blog vai acabar.

Mas não é hoje.

Nem amanhã.

Talvez no fim do mês.

Depende do tempo que tiver para publicar tudo aquilo que já tenho escrito ou em mente.

Porquê?

Porque o objectivo deste blog foi cumprido: todos vós me procuraram, encontraram, descobriram, visitaram, salvaram e, alguns, conheceram.

Spot me! - "descubram-me" - pedi eu.

Right on the Spot - "mesmo em cheio" - foi o resultado da vossa busca.

Stop! - "parem" - e vai parar mesmo.

Ao reler tudo o que escrevi, acho que valeu a pena.

Só tenho pena de não ter guardado todos os vossos comentários.
Nos Posts mais antigos está tudo em branco, uma vez que o sistema de comentários que adoptei não guarda tudo. É pena.

Sabem o meu e-mail - escrevam quando precisarem.

Eu vou aparecendo pelos vossos blogs.

E assinarei como sPOt.

Mas isto ainda não é o adeus final.

Apenas um fim anunciado.

;-)

domingo, novembro 07, 2004

Eu vi um sapo...


"Precisamos ter claro que relacionamento é a possibilidade de trocar afecto e crescer como indivíduos, e também, onde podemos contribuir para o crescimento do outro.
E nós, como indivíduos, crescemos – querendo ou não! Só que às vezes cada um cresce em direcções, sectores e em ritmos diferentes e antes, se havia entendimento e projectos comuns, parece que, de repente, cada um está falando uma língua diferente. Aspiramos coisas que o(a) parceiro(a) parece não estar mais interessado(a) ou, ao contrário, o(a) parceiro(a) parece querer coisas que nem imaginávamos que pudesse desejar. Começa a parecer-nos um(a) estranho(a)! E a culpa não é de ninguém: é bom isto ficar bem claro!
E neste momento estabelece-se claramente a crise!

Além de ser necessário fazer uma recapitulação da relação, precisamos abrir mão do orgulho e do egoísmo, tanto para se ficar numa relação e mantê-la como para se cair fora dela.
Eis o paradoxo! Às vezes não abrimos mão de uma relação só por orgulho ou egoísmo, e às vezes caímos fora também pelos mesmo motivos.

Permitir ao parceiro que tenha planos individuais ou algum hobby pessoal onde não estamos incluídos é necessário e saudável para a própria relação – como também nós devemos ter algo pessoal que não o inclua.
Sentir-se preterido pode indicar algum distúrbio emocional ou carência que deve ser suprida. E ai, movidos por tais dificuldades, tornamo-nos egoístas ou sentimo-nos feridos em nosso orgulho.
Então, depois de se colocar em disponibilidade para a relação (querer); fazer uma retrospectiva da mesma (crescimento de ambos e o rumo que tomaram); abrir mão do egoísmo e do orgulho; e, por fim, antever honestamente quais as perspectivas possíveis que tem esta relação; aí sim, poderemos superar, ou não, a crise que se desenvolveu e instalou.
E eu digo que a realidade é bem mais simples do que os fantasmas que nos atormentam (que são todos os nossos medos!), principalmente quando somos movidos em prol da nossa felicidade e queremos estabelecer uma relação verdadeiramente amorosa."

Maria Aparecida Bressani é psicóloga e psicoterapeuta.

quarta-feira, outubro 27, 2004

Temporal


Os meteorologistas até tinham avisado, mas eu ando sempre distraído: raramente presto atenção ao "manda-chuva"; quase nunca retenho a informação da rádio; e só sei que vai chover quando as primeiras gotas me atingem e descubro que não trouxe chapéu.

E foi por isso que não dei por ele chegar, o Temporal.

Apanhou-me (mais uma vez), desprevenido, sem capa, chapéu-de-chuva, ou roupa quente.

Veio do passado e, como um ciclone, rasgou as folhas de memórias passadas e atirou-mas à cara.

Sem dó nem piedade, atingiu-me no mais íntimo do meu ser, alheio ao facto de estar abrigado, feliz na família e de trabalho ocupado.

O vento forte derrubou-me, deitou-me ao chão.

A chuva fria ensopou-me até aos ossos, gelando-me o coração.

E a trovoada ensurdecedora, com os relâmpagos fulminantes, atingiu-me em cheio, paralizou-me, sem qualquer razão.

Pior que uma tempestade que se adivinha ao longe, é um temporal inesperado - uma tromba-de-água - um tufão.

Nos últimos tempos pareço uma América do Norte continuamente batida por tempestades ciclónicas de nomes anglo-americanos, ou um Japão sempre à mercê de maremotos, terramotos e afins:

- as minhas orlas marítimas são periodicamente visitadas por dúvidas parvas e ciúmes doentios;

- e o meu interior campestre desertifica-se e morre de sede, atingido por secos sentimentos e contínuas faltas de amor.

Sei que até os mais fortes furacões passam depressa, dando lugar à bonança.

Mas quando voltará o Sol a brilhar para mim?

domingo, outubro 24, 2004

Auto-retrato

Save me
from this sadness it's coming
or take me
before my smile it's dissolving
wake me
from this nightmare i'm entering
don't let me fall in the corners of my own

As a tear comes from inside
I feel like i'm gonna drown
and as i'm searching for something to occupy my mind again
I lay
Down on my bed
But then a picture of my soul shows me
there's no way instead

touch me
make me feel i'm alive
or forgget me
maybe i would die with time
love me
all i need is a hug
embrace me
'cause times are going too rough

and as i think i'm lost nowhere
i find where i am all alone
and as i'm desperating slowly just looking
at my night without stars
i praythat someone could call
but then a picture of my own
tells me i'm made to fall

and it's a picture of my own
a picture of my own
a picture of my own
that's making me feel this way
and i'm so sorry babe
it's all so silent here
up here
here,here...

"Picture of My Own" - Finger Tips

Pois, o mau tempo voltou. Já devia calcular... :-(

quarta-feira, outubro 20, 2004

Mudanças


A minha firma mudou de local.

Agora, oficialmente, estamos em Lisboa.

Só nos deslocámos um par de quilómetros, mas foi suficiente para mudar de concelho, cidade, etc...

E mudámos em tudo: no mobiliário, no espaço, no ambiente, no ar que respiramos, na vista que observamos...

Mas fez-me pensar: também nós podemos mudar muito sem ter que percorrer grandes percursos.

E podemos trocar o que nos veste, o que nos cerca, com quem estamos, como nos comportamos.

Só depende de nós.

Basta querer!


...(Adoro mudanças)

segunda-feira, outubro 18, 2004

Buda e Pest

Eram duas cidades diferentes e hoje são apenas uma: a capital da Hungria.

O livro do Chico é complicado.

Muito bonito, mas labiríntico (para utilizar um dos adjectivos de um outro comentário).

Não é escrito - é cantado.

É corrido.

Quase não pára e, quando o faz, não sabemos se estamos mais à frente ou mais atrás.

Anda do presente para o passado; do Rio para Budapeste; da Vanda para a Kriszta; de um livro para o outro.

Mas fala do que é normal para cada um de nós: do amor e do fim do mesmo, do trabalho e da frustração, da realidade e do sonho.

Perdão, não fala - toca.

Está escrito em Português, mas com sotaque.

E é engraçado, porque o próprio livro tem tudo a ver com as Línguas e a forma característica de as falar, com pronúncia, com sotaque, com música.

É giro.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Budapeste


Não, não vou viajar de novo.

Estou a ler o livro do Chico Buarque: "Budapeste".

É giro.

Leiam!

quinta-feira, outubro 07, 2004

Universos Paralelos - fim


A quem possa ter aborrecido por ter escrito tanto sobre o tema dos Universos Paralelos, desde já peço desculpa.

Eu próprio costumo fugir dos blogs que têm textos imensos nos post, e por isso dividi o meu texto em vários.

E juro que hoje é o último.

Mas é que queria mesmo falar disto.

A verdade é que aquela situação vivida com a minha filha despertou em mim a vontade de cumprir um objectivo que tenho mantido ao longo destes anos todos: possibilitar, dar, criar, proporcionar bons momentos, boas recordações, boas emoções a quem partilha a vida comigo, independentemente de serem pessoas de família, amigos, ou outros que, em dado momento, nos são chegados e queridos.

E ,embora o meu lado mais racional grite palavrões e chame os piores nomes ao meu lado mais imaginativo e emocional, por acreditar em tal possibilidade, a verdade é que acredito que estamos neste mundo para ser felizes.

E assim, para alcançar a felicidade eterna, não há que falhar: é só criar boas recordações em todos os momentos da nossa vida, com o maior número de pessoas possível.

Dessa forma, estaremos presentes numa série de universos paralelos junto daqueles que mais amámos.

E não vejo que outra ideia de Paraíso possa ser mais perfeita do que esta.


PS: vocês também estarão lá - no cantinho dos blogs: sem cara nem voz, apenas com as letras impressas num écran alvo, com os quais comunicarei através de um teclado sem fios!
;-)

sexta-feira, outubro 01, 2004

Universos Paralelos V

(...continuação)

É por isso que poderíamos concluir que deve mesmo existir um número infinito de universos paralelos nos Cosmos, acontecendo todos ao mesmo tempo, com as mesmas pessoas revisitando momentos completamente diferentes das suas vidas passadas, que por sua própria escolha, quer como resultado da escolha de outros.

De outro modo não poderíamos chamar Céu ao Céu.
Se esta hipótese não fosse possível, obrigando pessoas a ficar sozinhas para sempre, então seria o Inferno!


E, com a existência de universos paralelos, só conceberia o Inferno como um sítio em que estariam aquelas pessoas com as quais ninguém teria escolhido ficar (e que elas próprias não teriam escolhido ninguém).

Mas seria muito difícil acreditar que, nesta teoria, tal sítio existisse – ou então encontrar-se-ia vazio.

Porque até as pessoas mais maquiavélicas foram crianças ingénuas no início das suas vidas.

E ainda que não guardassem boas recordações desses tempos, nem conseguissem encontrar um símbolo de amor ou segurança na sua vida, haveria sempre alguém que as teria amado numa determinada altura (por mais curta que fosse).

Quer fosse um amigo, um familiar, um estranho numa situação especial – ou o próprio Deus, é claro.


(continua...)

segunda-feira, setembro 27, 2004

Universos Paralelos IV

(...continuação)

Há imensas situações que poderíamos tentar – todas terão sempre pelo menos duas opções, mas geralmente essa escolha será ilimitada.

E daí a necessidade de existência de uma infinidade de universos paralelos – conseguem imaginar?

Voltando ao meu exemplo original (a situação real com a minha filha), eu poderia escolher brincar com ela para sempre, e ela estaria naquele quarto comigo.
Mas depois ela poderia escolher ficar com o seu primeiro namorado, noutro sítio, noutro tempo, com outra idade.


E eu, de certeza absoluta, escolheria também uma idade em que o meu segundo filho estaria comigo a jogar à bola na relva de um jardim, num fim de tarde primaveril.

E o meu primeiro amor? É claro! Se não o primeiro, o segundo – ou o terceiro. Não interessa – escolheria o melhor de todos (ou escolheria todos!).
Não fariam o mesmo?

O engraçado desta hipótese seria o facto de que, imaginando que existiriam uma série de pessoas que nunca escolheria para partilhar a minha eternidade, estas poderiam ainda assim escolher-me como parte dos seus mais belos momentos.
E eu teria que estar lá – era a sua escolha!

Portanto, desde que não me sentisse miserável (o que Deus certamente teria em conta, não permitindo essa situação), porque não?


(continua...)

quinta-feira, setembro 23, 2004

Universos Paralelos III

(...continuação)

Analisemos outro exemplo:

Imaginem que estiveram casados cinquenta anos com o vosso parceiro.

Nunca tiveram grandes brigas ou problemas graves – o Amor superou sempre tudo.
E tiremos as crianças desta equação – nunca tiveram filhos.

Morreram, chegam ao Céu e Deus deixa-vos escolher a idade que preferirem (a tal que deveria reflectir a época mais feliz das vossas vidas).

Agora pensem bem: escolheriam passar também a eternidade com a mesma pessoa? Ou aproveitariam para escolher aquele momento em que beijaram o vosso primeiro amor, naquela praia de areias finas e quentes, gentilmente salpicados pelas gotas salgadas das ondas?

Difícil, hã?

(E lembrem-se, ainda que optassem pelo vosso companheiro de vida, será que ele/ela faria a mesma opção?)...


(continua...)

segunda-feira, setembro 20, 2004

Universos Paralelos II

(...continuação)

Mas simulemos que até conseguíamos efectuar a escolha, após um aturada análise do nosso passado, da melhor idade da nossa vida.
Vamos supor que eu escolhia mesmo a idade que tinha quando a minha filha estava a brincar comigo no chão do seu quarto.

Deus colocar-me-ia lá, naquele mesmo quarto de brinquedos, com a mesma janela de cortinas rosa-claro que deixavam passar a imensa luz do sol de um maravilhoso dia de Verão.
E eu esperaria um tempo infinito pela minha filha, mas ela não apareceria.

Porquê?


Primeiro, pensaria eu, porque ainda estava a viver a sua vida na Terra.
Mas depois de centenas de anos à espera, chegaria facilmente à conclusão que ela tinha escolhido uma outra idade – quase de certeza utilizando a minha mesma filosofia: teria optado por ficar com a idade em que brincava com os seus próprios filhos...

E lá ficaria eu para toda a eternidade fechado num quarto de criança, sozinho com os seus brinquedos.

E ela? Será que os seus filhos escolheriam a idade de criança ou optariam também por uma fase adulta, e por aí fora?
Ficaria também sozinha?

Conseguem imaginar um Céu cheio de pais e de mães fechados em quartos de brinquedos à espera que os seus filhos aparecessem?

Não é bem a minha ideia de Paraíso.

Nem deverá ser a vossa, de certeza.

(continua...)


sexta-feira, setembro 17, 2004

Universos Paralelos I


Quando a minha filha tinha quatro anos (hoje tem mais dez), estávamos a brincar no chão do seu quarto quando me perguntou:
-
Papá, quando morremos e vamos para o Céu, com que idade ficamos?
- Acho que Deus nos deixa escolher a idade que quisermos, provavelmente aquela em que fomos mais felizes. – respondi, mais para satisfazer a sua curiosidade do que para resolver a sua preocupação.
- Então acho bem que escolhas a tua idade actual, porque eu vou escolher agora como a idade mais feliz da minha vida. – replicou.


Tive que me levantar do chão, ir à casa-de-banho lavar os olhos e engolir em seco uma série de vezes até conseguir regressar à sua companhia.



Bem, em primeiro lugar tentem esquecer que isto foi uma conversa com uma criança de quatro anos de idade – não é normal. Tenho um outro filho com oito anos e, até hoje, nunca teve comigo um debate metafísico deste nível (embora expresse o seu amor de muitas outras formas).

Mas o que me fez pensar mais tarde foi a questão ali levantada: e se Deus nos deixar mesmo escolher a idade que preferimos?

O que escolheriam?
O que escolheria eu?
E até a minha filha, depois de se apaixonar ou de ter filhos, será que escolheria mesmo aquela idade?
Muito dificilmente.

A verdade é que eu próprio escolheria antes a idade em que brinquei com ela do que a idade em que brinquei com os meus pais.
Ou não?

Depois de uma vida inteira cheia de preocupações, desafios, escolhas, acidentes e incidentes, não escolheria eu antes voltar à minha infância? Ao tempo inocente em que a minha única preocupação era levantar-me o mais cedo possível para continuar a brincadeira da noite anterior?

Afinal, esta poderia não ser uma escolha assim tão fácil e óbvia.

(continua...)


quinta-feira, setembro 09, 2004

Gosto de Ti!


Porquê?


Porque sim!

Porque gosto.

Porque me fazes sentir bem.

Porque posso ser eu próprio sem máscaras ou truques de ilusionismo.

Porque posso falar de tudo contigo.

Porque conseguimos ver um filme juntos, mesmo que um de nós não goste.

Porque rimos e choramos das mesmas coisas.

Porque o gostarmos um do outro já deu frutos dos quais é impossível não gostar!

Porque mesmo sem palavras nos entendemos.

Porque no escuro nos descobrimos.

Porque fazer amor contigo é sempre melhor que a vez anterior.

Porque sabe bem acordar e estares aí.

Porque gosto quando tomamos o pequeno almoço juntos.

Porque sinto saudades quando não estou contigo.

Porque quando a vida pára nós conseguimos estar um com o outro.

Porque sobrevivemos juntos a muita coisa.

Porque mesmo quando estamos mal sabemos que vai passar.


Porque tu cuidas de mim.

Porque prometi aos deuses que cuidaria sempre de ti.

Porque eu gosto de ti.


Porque nunca deixei de gostar!

Porque tu gostas de mim...?


;-)

terça-feira, setembro 07, 2004

O Evangelho segundo Maria


Isto é apenas resultado do que tenho andado a ler: começou com O Código Da Vinci (romance), passou pelo o Código Da Vinci Descodificado (factos reais e presunções falsas na origem do romance) e finalizou em O Segredo dos Templários (estudo histórico esotérico sobre uma série de coisas relacionados com tudo o que está nos outros livros). E ainda me falta ler um!

Mas continuando, segundo estes investigadores, o grande segredo dos Templários, a busca do Graal, a origem de certos grupos maçónicos, a Pedra Filosofal, etc, não são mais do que manifestações de uma grande verdade escondida há milénios pela Igreja Cristã: o verdadeiro Messias era João Baptista; Jesus não passou de um sacerdote de um culto de raízes egípcias que aproveitou o assassínio de João para "brilhar"; e Maria Madalena foi casada (ou viveu) com ele, sendo a sua principal discípula (maior que Pedro) - e é ela que aparece ao lado direito de Jesus n'A Última Ceia de Leonardo Da Vinci.

Mas porquê tudo isto? Porquê esse segredo? Porque não contaram a história como devia ser?

Aparentemente, porque ela era uma mulher e, já nesses tempos, tal poder no feminino era impensável (nomeadamente para Pedro e Paulo, que trataram de contar a história de outra forma, e de séculos de domínio de Roma, que trataram de apagar todos os outros vestígios).

Parte da base desta teoria (pelo menos da que respeita à predilecção por Maria) está no texto abaixo apresentado, um dos evangelhos gnósticos (testos antigos que foram excluídos ou que nunca entraram na composição da Bíblia), onde Pedro põe em causa o tratamento preferencial que Jesus dava a Maria Madalena.

A ser verdade (nunca será provado), isto explicaria muita coisa que aconteceu no Mundo Ocidental nestes anos todos.

E, principalmente, porque é que as mulheres só agoram recomeçam a conquistar o seu lugar na sociedade, à medida que a religião vai perdendo o seu peso na gestão dos estados.

Chapter 9

1) When Mary had said this, she fell silent, since it was to this point that the Savior had spoken with her.
2) But Andrew answered and said to the brethren, Say what you wish to say about what she has said. I at least do not believe that the Savior said this. For certainly these teachings are strange ideas.
3) Peter answered and spoke concerning these same things.
4) He questioned them about the Savior: Did He really speak privately with a woman and not openly to us? Are we to turn about and all listen to her? Did He prefer her to us?
5) Then Mary wept and said to Peter, My brother Peter, what do you think? Do you think that I have thought this up myself in my heart, or that I am lying about the Savior?
6) Levi answered and said to Peter, Peter you have always been hot tempered. 7) Now I see you contending against the woman like the adversaries.
8) But if the Savior made her worthy, who are you indeed to reject her? Surely the Savior knows her very well.
9) That is why He loved her more than us. Rather let us be ashamed and put on the perfect Man, and separate as He commanded us and preach the gospel, not laying down any other rule or other law beyond what the Savior said.
10) And when they heard this they began to go forth to proclaim and to preach.

The Gospel According to Mary

Note-se bem que não advogo nem recuso esta teoria - apresento-a aqui apenas como curiosidade e partilha de informação. Mas agradeço comentários.
Interessante, não é?

sexta-feira, setembro 03, 2004

Carta de Demissão


Quero pedir urgente a demissão,
Do compromisso banal de ser adulto,
E me recuso a prestar o velho culto,
De insanidade, problemas e ambição.

Retroceder ao tempo da descontração,
Ir com os ventos, viver cada minuto,
Com a pureza no olhar, sem nada oculto,
Correr na chuva, sorrir, deitar no chão.

Quando o cansaço chegar, dormir profundo,
Ir passear no sonhar, em outro mundo,
Brincar de nuvem, num céu que é colorido.

E extasiado em viver cada momento,
Quero gritar bem alto, aos quatro ventos,
Que desse mundo sem cor, fui demitido.

"Pedido de demissão da vida adulta" - Martinho Ferreira de Lima




quarta-feira, setembro 01, 2004

Ô-ô-Ô-ô-ô-ô-Ô-ô-ô-Ô-ô-ô-Ô...

Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme quinda à noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer


Canção De Embalar (Zeca Afonso)

Boa noite ;-)

segunda-feira, agosto 30, 2004

Regresso


Como prometido, estou de volta!

Regressado de férias, ainda tisnado pelo Sol, mas a pelar.

E também como prometido, com um novo look - Outono/Inverno, se desejarem.

Não estou inteiramente feliz com o resultado, mas às vezes a mudança é importante só pela mudança em si e não tanto pelo resultado final.

E como nada é eterno, vou acertando os pormenores ao longo do caminho (não estou a ser metafórico, embora isto se aplicasse a mim próprio).

Pois é - estou de volta e estou feliz: descansado, relaxado, e de bem com todos os que gosto.

E ainda tenho um dia de férias!

Bem vindos ao meu novo Spot!

terça-feira, agosto 10, 2004

Aniversário


Hoje, o alter ego do sPOt faz anos: 37!

Já tinha idade para ter juízo, hein?

Beijos e Abraços :-)

sexta-feira, agosto 06, 2004

Dear Friends


So dear friends,
Your love has gone
Only tears to dwell upon,
I dare not say
As the wind must blow,
So a love is lost
A love is won,
Go to sleep and dream again
Soon your hopes will rise,
And then from all this gloom
Life can start a new,
And there'll be no crying soon

Words and music by Brian May (Queen, Sheer Heart Attack, 1974)


Vou de férias. Até Setembro!!!

quinta-feira, agosto 05, 2004

Sossega Coração


Sossega, coração!

Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo!
Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa 2-8-1933.


Pois, o Fernando é que a sabia toda...

terça-feira, agosto 03, 2004

Simplificar



"Simplificar a vida é, acima de tudo, viver no aqui e agora, atento ao momento presente e a si próprio e como se relaciona com a situação deste momento presente, porque o futuro o aguarda e será seu fruto. É libertar-se das preocupações dos problemas e trabalhar com o objetivo de resolvê-los a seu favor, focando na solução dos mesmos.

Simplificar a vida é gerar desenvolvimento da paz interior e do discernimento, através do autoconhecimento, para que possamos fazer as melhores escolhas no dia-a-dia em função da meta maior, que é tornar-nos indivíduos plenos e realizados."


Maria Aparecida Bressani (psicóloga e psicoterapeuta Brasileira)


Eu até já devia ter suspeitado: numa altura complicada da vida, o que preciso mesmo é de simplificar.

Mas como é possível que uma acção cuja palavra significa "tornar simples" seja tão difícil de realizar?

Está decidido: para começar, estas férias vão ser vividas dia-a-dia, no presente, Hoje!

E depois se verá.

Não vou complicar.

É simples!

sexta-feira, julho 30, 2004

O que é que a vida vai fazer de mim?

 
Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões,
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês.

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigada a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país.

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião, o seu bicho preferido
Vem, me dê a mão,
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido.

Agora era fatal
Que o faz-de-conta
terminasse assim
Pra lá desse quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar

O que é que a vida vai fazer de mim?

(João e Maria - Chico Buarque)
 
 
Uma boa pergunta - alguém tem uma boa resposta?
 
Bom fim de semana!

quarta-feira, julho 21, 2004

"Soap"

Olá!
 
Após duas semanas exactas de ausência, estou de volta - e agora a cores!!! 
 
Mas aviso já que em meados de Agosto vou de férias três semanas!
 
Por isso não estranhem.
 
Aproveito para agradecer a todos os que me visitaram na minha ausência e deixaram os grafittis na parede da loja a dizer passei por aqui.
 
Como disse, estive a visitar fornecedores de blogues para montar a colecção Outono-Inverno (a sair em Setembro).
 
A velha loja terá uma nova montra a partir dessa altura - e, como sou exigente, demorei muito a escolher (aliás, ainda não decidi por completo o que vou fazer a este blogue).
 
Mas será diferente do actual (pelo menos esteticamente).
 
Quanto a conteúdos, o facto é que o Verão tem o condão de fazer esquecer alguns problemas, e isso, no meu caso, implica uma quebra de assuntos sobre os quais falar.
 
Se não posso falar de desgostos de amor, problemas familiares, pensamentos profundos, dúvidas existenciais, e por aí fora, para que é que hei-de publicar alguma coisa?
 
A verdade é que não me puxa para falar de coisas boas que me acontecem.
 
Nem sequer é por orgulho, modéstia, ou falta de acontecimentos. Apenas não acho que este seja o sítio para tal.
 
Gosto muito de comemorar as minhas vitórias pessoais, quer no emprego, quer na vida em geral, mas prefiro fazê-lo com quem me é mais próximo.
 
Pronto, acabei de contradizer-me: já uma vez aqui afirmei que vocês são importantes para mim; e que me ajudam a superar certos estados de espírito; e que falo convosco sobre coisas que não digo a mais ninguém - como posso estar agora a dizer que não me são próximos?
 
Mas não gosto de vangloriar-me.
 
Portanto, deixo escapar apenas o seguinte: a minha vida profissional teve recentemente uma evolução muito positiva, e a minha vida familiar está a ir no bom sentido.
 
Mas dentro da minha cabeça eu ainda tenho dúvidas quer em relação à primeira, quer em relação à segunda!
 
Confusos?
 
Deixarão de estar depois de mais um episódio de... sPOt! ;-)
 
  


quarta-feira, julho 07, 2004

Volto já

sexta-feira, julho 02, 2004

Sibila


Querubim dançante
Que flutuas
E bailas à luz
Do Luar,
Por favor
Olha-me!
Ensina-me a arte
De tão bem dançar.

Estrela cadente
Que cais pela noite
Do Céu para a Terra,
Por favor
Atinge-me!
Derrete-me!
Diz-me
O porquê desta Guerra.

Dente-de-Leão
Que foges
Do chão
E vives no ar,
Desce até mim!
Ajuda-me,
Enfim,
A conseguir amar!

PO 15/3/88

PS: Ao ser publicado, passa a ser de todos (principalmente dos que ainda acreditam), mas dedico-o a ti Estrelinha ;-)

quinta-feira, julho 01, 2004

Portugal!!!


A vantagem de viajar muito (ainda que em trabalho), é que acabamos por fazer muitos amigos noutros países.

Nos últimos dias (desde o jogo contra a Espanha), tenho recebido mensagens, telefonemas e e-mails dos mais variados pontos da Europa, Norte de África e América do Sul.

São sempre votos de parabéns pelo jogo efectuado, felicidade para o jogo seguinte, regojizo pela nossa passagem ou actuação, ou manifestações de agrado por determinado adversário ter sido afastado da competição.

Mas todos eles me transmitem uma sensação de honra, respeito e satisfação quer pela actuação da equipa, quer pela organização do evento em si mesmo.

E eu, que não sou nada dado a patriotismos fáceis, dou a mão à palmatória, baixo a cabeça em respeito, inclino-me perante tal manifestação de solidariedade e apreço pelo nosso país.

E numa altura em que um português foi escolhido (não importa em que grau de decisão) para liderar o destino da Europa (25 países!!), só tenho que ter orgulho em ser Português.

E é este orgulho, esta necessidade de não falhar agora que toda a gente tem os olhos postos em nós, que me leva a defender com unhas e dentes o que é nosso, mesmo depois do campeonato acabar e dos estrangeiros deixarem a nossa terra: Portugal!

Portugal sobreviverá à nossa vitória ou derrota no Domingo; sobreviverá à saída do nosso PM lá para fora; sobreviverá à sua actuação (boa ou má) nesse palco internacional; sobreviverá às eleições que deveriam acontecer (porque devemos ser nós a escolher quem nos governa - apenas por isso); e, por fim, sobreviverá a qualquer eventual instabilidade económica ou política que nos atinja (mais uma vez!).

Quando voltar a viajar, quero ter bons motivos para falar com os meus colegas. Portanto vamos lá todos ajudar!!!

Escrevo-o aqui e digo-o a quem fala comigo no dia a dia: Portugal sobreviverá! Portugal viverá!

Viva Portugal!

PS: Para quem afirmava não gostar de patriotismos fáceis... ;-)

domingo, junho 27, 2004

Mãe


A minha Mãe fez anos no Sábado: 62!

Sem dizer nada, e apesar de uma manhã de ressaca, reuni as tropas e lá fomos todos (filhos e esposa), depois do almoço, à região de Torres Novas, onde mora com o meu pai.

Comprámos um bolo numa pastelaria lá da terra e lá surpreendemos uma mãe super-feliz e chorosa de alegria. Cantámos os parabéns na hora do lanche e à noite fomos jantar fora.

Entre ontem e hoje, antes de voltar a Lisboa a meio da tarde, dormi duas sestas, tomei dois banhos refrescantes no tanque do poço, chateei o cão, comi duas laranjas dulcíssimas que ainda sobraram da Primavera (e que a minha mãe guardou para mim), estendi-me na rede debaixo das duas laranjeiras, e deixei-me perder por várias vezes na contemplação da vegetação, das aves, do céu... Enfim, voltei à minha infância.

Os meus filhos não me chateiam muito (e não querem que eu os chatei a eles!).
Com quem partilho a vida de casado (não é segredo, pelos meus posts) tenho alguns períodos muito maus - mas estes últimos dias foram muito bons!
Os meus pais não pedem nada - só me dão! Tento retribuir como aqui tenho demonstrado.

E eu, já não tenho dúvidas (e dias como estes assim confirmam), sou aquilo que alguém um dia me chamou: Menino Grande.

(Ver Post 27 de Março)

Sexta à noite


Na sexta-feira passada houve jantar da empresa.

Fomos a um restaurante brasileiro (tinha que ser...), em Sintra, para reavivar as memórias da nossa ida ao Brasil, assistindo à projecção do vídeo que um colega se deu ao trabalho de registar durante a viagem.

Foi giro, mas não foi "muuuito giiiro"...

Depois, já perto da uma da manhã, um grupo restrito rumou a Alcântara, tendo como destino o Blues. Ainda estava um ambiente calmo quando chegámos, mas foi bom porque deu para estar um bocado a falar.

Depois começou o barulho e lá descemos para a pista. A meio da noite o grupo estava reduzido a quatro (dois eles e duas elas), mas também, quem é que estava a contar? A qualidade de quem estava é que interessava - e essa era muito boa (em todos os sentidos).

Estava muito calor. Estava já muita gente nessa altura (muitos franceses e alguns gregos - do jogo da noite anterior). Acabámos por passar os últimos largos minutos na esplanada, ao ar livre, a falar de tudo e mais alguma coisa.

Um colega tardio juntou-se-nos já no final e desafiou-nos para ir ali mesmo ao lado, ao Docks.

Confesso que resisti um bocado. Não estava muito virado para ali. Não era decididamente a minha noite. Estava ali mas a minha cabeça não. Não gozei muito, devo dizer. Estive quase sempre absorto, aéreo, ausente. Mas lá acedi. Uma das colegas desistiu e já não foi.

Estava impossível: era Ladies Night no Docks. Já não havia vodka! E a fila para pedir qualquer outra coisa não tinha fim. Mas lá conseguimos. Mais uma vez, os estrangeiros abundavam. Não vale a pena confirmar que estava apinhado de mulheres (míudas, na sua maioria). E a música estava muito boa.

A última colega resistente decidiu ir embora e eu saí com ela, abandonando os meus camaradas à sua sorte numa discoteca em noite de ladies (pobres rapazes, ainda não tive notícias deles...).

Estando ambos com fome (eram 5 da matina), parámos para comer um cachorro antes de regressar a casa. A noite estava quente e o céu estrelado. Falámos do jantar e de uma ou outra coisa sem importância. Nada mais.

Não era a minha noite, não estava para ali virado.

E o facto de ser "aquela" colega, uma amiga, alguém com uma situação pessoal muito semelhante à minha, com quem já falámos de tudo e de quem sabemos que as coisas ainda não estão bem, tiram a vontade de falar de coisas pessoais.
A última coisa que queremos é despertar os demónios (da outra pessoa e dos nossos!). E os meus já me tinham impedido de tirar partido dessa noite na sua plenitude.

Além disso, tinha-lhe dito que eu nunca iria puxar pelo assunto - quando quiser falar disso, há-de ser ela a dizer. Mas sabe que estarei lá para ouvir. No entretanto, falamos das coisas boas (mas ficarão sempre os olhares, os gestos, o comportamento diário para dar a entender se se está bem ou menos bem).

Força amiga! Beijinhos e até segunda!

sexta-feira, junho 25, 2004

Viva Portugal!


Seria impossível escrever algo triste hoje.

A verdade é que, mesmo que não tivesse vibrado que nem um louco ontem à noite, hoje seria impossível não partilhar do contentamento geral dos Portugueses.

Foi um jogo louco, pleno de emoção até ao fim.

Mas acho que é um pouco mais do que o simples jogo de futebol que nos está a causar esta alegria colectiva.

Acho que o sentimento geral dos últimos tempos dos Portugueses era de tristeza, depressão, preocupação, derrotismo, decepção e falta de confiança no Futuro.

E o começo deste Europeu não ajudou: após o jogo com a Grécia lá vieram os Velhos do Restelo clamar que bem tinham avisado, que Portugal isto e Portugal aquilo, e que não íamos a lado nenhum.

Por algum motivo, o simples facto de termos anulado estas previsões pessimistas tão nossas, ainda nos deu mais alento do que a simples constatação das vitórias entretanto acontecidas.

Foi como se o lado bom de nós próprios tivesse vencido o lado mau de nós próprios.

No fundo não derrotámos a Rússia, a Espanha e a Inglaterra - derrotámos o nosso alheamento, o nosso pessimismo, a nossa triste fatalidade para o infortúneo.

Anulámos o Portugal que há algum tempo estava a definhar, com o Portugal que nos enche de orgulho, glória e capacidade de lutar contra a adversidade.

Seria impossível estar tão contente com apenas um jogo de futebol.

A multidão que ontem e esta madrugada andou nas ruas aos milhares, não ganhou nenhuma a taça (ainda?) - o que estavam a comemorar, então?

Muito simplesmente: a vitória dos seus próprios fantasmas.

Independentemente do que possa acontecer a partir de agora:

Viva Portugal!

quarta-feira, junho 23, 2004

É minha, a culpa?


Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...



Florbela Espanca, "Minha culpa"



segunda-feira, junho 21, 2004


Quando era miúdo e andava à bulha com outros miúdos, havia sempre uma altura em que prendíamos o outro (ou ele a nós) e se fazia a famigerada pergunta:
- "Desistes?"

Se a resposta era não, continuáva-se a apertar, a bater ou a fazer algo tão extremo que o outro (ou nós) tinha mesmo que dar o braço a torcer:
- "Desisto!"

E tudo acabava ali.

Nos últimos meses, estas perguntas e respostas entram quase diariamente na minha vida, mas até agora respondi sempre:

- "Não! Não desisto!"

Até quando?

Em que altura decidimos que é chegada a hora de desistir?
Quando em vez de tal luta nos dar prazer nos começa a dar mau-estar?
Quando o sofrimento é atroz?
Quando a luta em si já não nos diz nada?
Quando até estávamos a ganhar mas isso já nem importa?

Porque é que se decide que é chegada a hora de abandonar a luta?
É por covardia? Por a luta em si nos assustar?
É por medo de nos aleijarmos mais?
É porque sabemos que somos mais fortes e não queremos magoar o outro?

Como se toma tal decisão?
Como se diz à outra pessoa:
- "Desisto! Já não sou capaz de argumentar. Ganhaste!"

E se nesta luta ninguém ganhar?

E se o que estiver em causa é sempre uma derrota, independentemente de ser um ou outro a desistir?

Ou será que a desistência é uma vitória para ambos, uma vez que a luta acaba e assim o sofrimento que ela nos provoca também?

- "Desistes? ...E isso faz-me feliz?"

sexta-feira, junho 18, 2004

É impossível ser feliz sozinho?


Vou te contar,
Os olhos já não podem ver,
Coisas que só o coração pode entender,
Fundamental é mesmo o amor,
É impossível ser feliz sozinho.

O resto é mar,
É tudo que eu não sei contar,
São coisas lindas que eu tenho pra te dar,
Fundamental é mesmo o amor,
É impossível ser feliz sozinho.
(...)


Vou te Contar (Excerto), Tom Jobim.

Estou a repetir-me pois já tinha publicado esta letra logo no início do meu blog.
Mas faz sentido para mim colocá-lo hoje de novo.

E, para quem gosta de desafios, agradeço a resposta à pergunta.

Beijos e Abraços!
;-)

segunda-feira, junho 14, 2004

Soneto do maior amor


Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da vida eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.


Vinicius de Morais, Oxford, 1938

...Mas podia ser meu e escrito hoje, aqui...

Se me dissessem isto de outra pessoa, diria que era doente ou desequilibrado...

Talvez o seja...
Talvez aquela cabeçada no chão quando era puto me tenha afectado.
Não encontro outra explicação...
E isto num tipo racional como eu, é lixado...

;-)

domingo, junho 13, 2004

Semanário


Bem, cá estou eu de novo.

A semana que passou foi extremamente variada, interessante e... complexa.

No Domingo passado parti para Varsóvia, capital da Polónia, onde estive 2ª, 3ª e 4ª em reuniões de trabalho e apresentações super chatas. Até os jantares nos restaurantes locais foram fracos (embora o último tivesse escapado à regra). Valeu a companhia.

Na 5ª fui para Tróia, onde estive até esta manhã com a família. Passámos uns belos dias, com muito sol, muita água e alguma descontração. E não pareceram apenas 3 ou 4 dias - foi tudo muito bem aproveitado, deixando-nos com a sensação de plenitude.

Só que pensei que voltaria renovado e pronto para dois meses que se afiguram difíceis, antes das férias de Agosto, e afinal estou irritadiço, pensativo e de mau-humor.

Mas ao menos estou com um bom bronze! (lol)

Enfim, nada que uma boa semana completa de trabalho árduo não cure.

Para não vos contagiar com o meu estado de espírito, fico por aqui.
Prometo que voltarei assim que tiver algo mais para dizer para além de conversa de circunstância.

Obrigado por manterem o Spot Me! vivo! ;-)

sábado, junho 05, 2004

Vivendo...


Pois, não morri!

Nem estive a morrer... (Mas não estamos todos a morrer desde que nascemos?)

Foi apenas um acidente de percurso, esta semana.
Atravessou-se na minha alegria, na minha excitação, na minha ressaca, na minha ingénua felicidade de menino grande.

A Vida tem destas coisas e, como foi ela que me chamou, presumo que estou mesmo vivo, embora os últimos posts dessem a entender o contrário.

Mas se é esta a vida que me chama, o que será a morte?

O pior inferno que me poderia ser dado como pena dos meus pecados, seria um local não de sofrimento físico mas psicológico: um inferno de ignorância; de desprezo; de acções rotineiras e inconsequentes; de burocracias sem sentido; de filas; de encontrões; de arranjos em casa; de reuniões de pais; de conversas sobre o tempo...

Mas pronto, ela chamou e eu cá estou. Sempre a dar o máximo.

E amanhã lá vou eu de novo para fora do país, em trabalho.

Portanto este blog vai ficar parado durante uma semana.

Ou não?
Sei que pareço algo distante ultimamente, mas agradeço sempre a vossa visita e, se assim entenderem, o comentário.

Neste sentido ele não ficará parado, claro.

Estará vivo.

Como eu...

Até para a semana!

sexta-feira, junho 04, 2004

Morrendo... IV


Órfão de Pai
E de Mãe,
Desloco-me
Num vai e vem,
Vagueando
Pelos céus.

E o Tempo
Vai correndo,
E lentamente
Morrendo,
Em vão aceno
Um adeus!

PO 6/2004

quinta-feira, junho 03, 2004

Morrendo... III


Irmão da fecunda
Terra
Minha alma chora
E berra,
Pela vida
Vagueando.

Mas minha irmã
É tão fria
Que apenas
Me desafia
E aos poucos
Me vai matando.

PO 6/2004

quarta-feira, junho 02, 2004

Morrendo... II


Filho do Sol
Intenso
Procuro em tudo
O que penso
Um motivo
Para viver.

Mas o meu pai
Não me entende,
Antes me queima
E ofende,
E mais me ajuda
A morrer.

PO 6/2004

Morrendo... I


Filho da Lua
Brilhante
Percorro o mundo
Num instante
E para a noite
Vou correndo.

Mas minha mãe
Está distante
E eu, num sofrer
Desesperante,
Aos tropeções
Vou morrendo.

PO 6/2004

terça-feira, junho 01, 2004

Dia da Criança


Para quem me lê desde o início, sabe que tenho dois filhos: uma menina de 13 e um menino de 7.

Não falo muito deles por aqui - quando digo que este é o meu espaço, o meu diário, falo mesmo a sério: é mais sobre eu, o meu coração, a minha alma.

Mas por isso mesmo, porque são pedaços de mim, estão no meu coração e me alegram a alma, hoje tenho que falar deles.

Seria inútil dizer que são os mais lindos à face da Terra.
Primeiro porque para mim seria declarar o óbvio; segundo porque para quem está de fora seria um exagero - os mais lindos são os vossos (se os
tiverem).

Dizer que são inteligentes como o Pai e bonitos como a Mãe seria mais uma vez exacerbar aquilo que realmente são e que não devem nem a um nem ao outro - são assim porque os Deuses assim o quiseram, e serão tanto mais inteligentes quanto mais se dedicarem a isso, independentemente da orientação que nós façamos.

A minha filha está naquela idade dos telefonemas sem fim, da música alta e barulhenta, da introspecção, da mutação física e dos seus efeitos, da independência, do isolamento, da crítica, do humor negro, da resposta fácil, do confronto, enfim, uma adolescente completa!

Adoro-a! Gosta de desenhar e escrever (como eu), e é toda virada para as belas artes (com um ênfase temporário, espero, para a BD Manga Japonesa). De resto, é ela a responsável por eu estar tão actualizado em relação à música contemporãnea; e é com ela que tenho as conversas mais interessantes sobre tudo e mais alguma coisa.

O meu filho está na idade de jogar à bola, andar de bicicleta, jogar gameboy, de não conseguir estar parado, de me roubar o computador a toda a hora (sim é ele que entra e sai do Messenger e vocês ficam a pensar que eu vos vi e saí logo para não me falarem...), de fazer perguntas sem fim, de implicar com a irmã, de querer saber tudo sobre os carros, ou seja, um puto super activo (mas não hiper-activo)!

É o meu companheiro. Quando eu estava mais em baixo aqui há dois ou três meses, era com ele que eu ia sair ou jogar à bola. Ou com quem me sentava no chão a brincar, durante horas e horas. É sempre dele que me lembro quando estou no estrangeiro e vejo algo que acho que ele gostaria de ter (e, sempre que posso, trago-lhe essa coisa). A sua preferência, nesta fase da vida, vai para a música: aprende sozinho a tocar melodias no seu pequeno piano digital (aqui acho que sai à mãe).

Ambos têm boas notas e bom comportamento na escola.
Para além das maleitas do costume, nunca tiveram grandes problemas de saúde.
Em casa ajudam sempre que isso lhes é solicitado; intervêm quando acham que têm algo a dizer (e são ouvidos); são bestialmente críticos em relação a tudo o que acham que não está bem, e desmesuradamente doces quando sentem que devem apoiar ou quando necessitam de algo mais.

Materialmente nunca lhes faltou nada. Talvez a minha filha tenha demorado mais tempo a adquirir algumas coisas, mas isso tem a ver com a progressão da vida, com a minha carreira, com o ambiente à volta da família. Para o meu filho aparentemente é tudo mais fácil no que diz respeito a conseguir o que pede, pois hoje as coisas estão mais estáveis economicamente.

Por sua vez, psicologicamente, ela é mais forte que ele. Ela apanhou toda a era da felicidade no lar - ele já assistiu a algumas (grandes) discussões, e afastamentos. Mas também eu assisti a grandes desavenças entre os meus pais e isso só me ajudou na vida, por muito traumático que possa ter sido na altura.

O que interessa é que, no meio de tudo, independentemente das crises, continuamos a ser uma família! Unida, aberta e feliz!

Feliz Dia da Criança, filhos!

segunda-feira, maio 31, 2004

A Última Noite


A noite em Jeri tem dois ou três locais de eleição (atenção que esta não era a época alta - talvez noutra altura seja bem mais activa).

O primeiro é um barzinho mesmo de frente para a praia, onde, após subirmos umas escadas de madeira, acedemos a um terraço a céu aberto, com bancos de pé alto e um balcãozinho a toda a volta da estrutura, contemplando o mar, a rua, ou os coqueiros. É uma área onde se pode falar e beber, acompanhados por uma música variada mas sempre com o volume baixo, sem perturbar as conversas, e mesmo deixando ouvir a música do bar ao lado.
Foi neste bar que descobri as músicas "Proíbida pra mim" e "Babylon" (esta última que associei de imediato ao Blog da MJM), cantadas por Zeca Baleiro (que então desconhecia). A guia tratou de me inteirar de todo o percurso deste autor e de outro, Zeca Pagodinho (será que todos eles são Zecas?), mais tradicional, com letras igualmente deliciosas, mais viradas para o samba.

O segundo local, mesmo em frente, no outro lado da rua que vai dar à praia, chamava-se "Planeta Jeri", e começava sempre com música ao vivo - sempre ao ar livre.
Nessa noite, após abandonarmos o terraço do primeiro, transferimo-nos para este e acompanhámos a voz quente e forte de uma mulata e do seu acompanhante, cantando êxitos vários (a pedido e tudo), de samba, bossa nova e pop brasileiro contemporãneo.
Depois da meia noite começava a pista de dança, já lá dentro, com as músicas internacionais do momento e com outras mais retro (ou talvez fosse a noite do Disco...).

Às 2:00 já não havia grupo: uns haviam regressado ao hotel há muito; outros ficaram sempre no outro bar; outros permaneceram neste último até ao fim (4:30/5:00); e outros decidiram experimentar algo.
Perto da entrada do hotel ouvia-se um outro tipo de música: forró!
"- Onde é o forró?" - perguntei à guia.
Cansada, disse-me que era aí a uns 100 metros dali, mais acima, já bem dentro da vila.
Não foi difícil convencê-la e às minhas colegas a ver como era: "- então, hoje é a última noite! O único forró que vimos foi o do Pirata, muito giro mas tudo trabalhado. Não querem ver o tradicional?" - e lá fomos.

Este terceiro local parecia um arraial de Sto António.
Tudo ao a céu aberto, havia uma zona de mesas para o petisco e para as bebidas, coberto por um frágil alpendre; uma zona de bar ao balcão; e a zona de dança, sem banda, mas com espaço reservado para tal.
Casais dançavam colados um ao outro, segundo o ritmo da música, mais calmo ou mais acelerado conforme o tema.
Numa área do topo, juntavam-se as moças à espera de par; os moços ficavam-se pelo bar.
E na pista, surpresa total, dois dos meus colegas que haviam desaparecido há muito lá debaixo, dançavam animadamente com duas locais! E que bem que eles estavam.
"- Aprende-se num instante!" - gritava-me um.
"- São só três passos" - dizia-me o outro.
Mas fiquei-me pelo bar, com o resto do pessoal. Já não aguentava muito mais.

Às 3:00 uma das colegas lembrou-me: "- Não te esqueças da chuva de meteoritos!"
Pois era. O barman do primeiro local dissera-nos que entre as 3 e as 4:00 ia haver uma chuva de meteoros visível em toda a costa do Brasil.
Voltámos para a praia, deitámo-nos na areia, e olhámos o céu, espectantes.
"- Alguém trouxe as caipirinhas?" - ouviu-se. Todos riram. Mas tinham mesmo trazido!
Foi uma chuva muito fraca, aqui e ali passavam umas fugazes estrelas cadentes - nada de extraordinário ou de apocalíptico como eu estava à espera.
"- Sabem que se olharmos para este céu e imaginarmos que o estamos a ver de cima e não de baixo, ficamos com a sensação de que estamos a flutuar no espaço?" - afirmei.(*)
Ouve um momento de silêncio, como se estivessem a testar a minha teoria, e depois os comentários vieram em força:
"- Isso já são as caipirinhas a fazer efeito!"
"- Vê lá se flutuas até à cama, que eu não me consigo levantar!"
"- Tens razão!!!"
"- 'Tás é a ver estrelas!!"

Não me lembro como fui para o hotel, mas sei que acordei por volta das 8:30, com uma bela dor de cabeça, na minha caminha (cheia de areia!), e ainda de chinelos nos pés...

Depois disto tudo, após uma manhã de compras nas lojinhas da vila, regressámos de autocarro ao Resort original (a sul de Fortaleza), após 7 horas de caminho, quase sempre a dormir. À noite fizémos ainda uma festa de homenagem ao Chefe pela organização desta viagem, onde fui eu a botar discurso.

O dia seguinte, o último da nossa estadia no Ceará, passou-se já sem aventuras para vos contar, só a preguiçar estendido ao sol, mergulhando nas águas quentes da piscina, e saboreando as últimas capirinhas...

Este foi o meu último post sobre a viagem ao Brasil. :-)


PS: (*) isto é mesmo verdade - experimentem, mas num sítio onde não haja luz de candeeiros de rua. Depois digam-me se não é mesmo assim. ;-)

domingo, maio 30, 2004

Lagoa do Paraíso


Depois de cerca de uma hora de caminho por estradas de terra vermelha (contraste fabuloso com a imensa folhagem verde das árvores e arbustos daquela zona), como se a zona das dunas e da praia pertencesse a outro planeta, e com o buggy, sempre aos saltos, a roçar perigosamente quer os ramos, quer as cercas de propriedades privadas que por ali abundavam, chegámos à Lagoa do Paraíso por volta das 13:00.

O nome faz-lhe inteira justiça: é uma lagoa imensa, de água-doce, cercada a toda a volta por areia fina e branca, e rodeada alguns metros mais atrás por toda a espécie de árvores.
Esta mesma lagoa acaba por ter vários nomes, conforme o sítio de onde a observamos, tal é a sua grandeza.
Mas neste local em particular, uma praia privada de infrastruturas criadas por um francês, e agora pertença de (mais) um português, o nome Paraíso adequa-se perfeitamente - e ainda mais se adequou à nossa experiência nessa tarde.

Devíamos só ter parado ali para almoçar, mas acabámos por ficar lá até anoitecer (pouco depois da 17:00).
Depois de nadar, tirar fotografias e beber mais umas caipirinhas, sentámo-nos em grupos de seis à volta de mesas de nadeira à sombra de chapéus enormes de folha de coqueiro ou de palmeira, e deliciámo-nos o resto da tarde a comer lagostas e camarões, bolinhos de queijo e de peixe, acompanhados sempre por garrafas de cerveja servidas numa espécie de termo para manter a sua frescura. Foi simplesmente divinal - e marcou as conversas daí até ao fim da nossa viagem.

No caminho de volta, já de noite, aconteceram várias peripécias: um buggy perdeu-se e outro atolou-se numa das várias lagoinhas que interrompiam a estrada. No tempo que o nosso buggy ficou parado à espera dos retardatários, ficámos deitados no chão arenoso, aqui já coberto de alguma erva, a contemplar o céu estrelado por cima de nós. É das imagens mais vivas que ainda carrego na minha memória (e só aí porque foi excusado tentar apanhar tão belo cenário nas câmaras fotográficas - nunca resultou).

Muito cansados, chegámos a Jeri pouco depois das 20:00. Mais uma vez, alguns não resistiram ao jantar e foram logo para o hotel.

Mas um grupo decidiu que a última noite teria que ser inesquecível.

(continua dentro de momentos...)





sábado, maio 29, 2004

Impulsos


Proibida pra mim

Ela achou meu cabelo engraçado
Proibida pra mim no way
Disse que não podia ficar
Mas levou à sério o que eu falei.

Eu vou fazer de tudo que eu puder,
Eu vou roubar essa mulher pra mim
Posso te ligar a qualquer hora
Mas eu nem sei seu nome!

Se não eu, quem vai fazer você feliz?
Se não eu, quem vai fazer você feliz?

Eu me flagrei pensando em você
Em tudo que eu queria te dizer
Em uma noite especialmente boa.

Não há nada mais que a gente possa fazer,
Eu vou roubar essa mulher pra mim
Posso te ligar a qualquer hora
Mas eu nem sei seu nome!

Se não eu, quem vai fazer você feliz?
Se não eu, quem vai fazer você feliz...?

Charlie Brown Jr.
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Ontem comecei o dia a ouvir esta música triste, com música de Z. Baleiro, no CD do carro. De repente, parecia que o Brasil tinha acontecido há ano, e eu tinha sido de novo apanhado pelo quotidiano cinzento e amorfo do costume.
Mas durante o dia, por entre incontáveis tarefas e reuniões, lá me fui erguendo, escrevendo, espantando esses demónios - esses Velhos do Restelo pessoais.

E então aconteceu o que nunca antes acontecera: tomado por um impulso, convidei alguém para sair, para falar, para dar uma volta - nada de mais.
Depois de clarificar alguns pontos importantes (nenhum de nós ser Serial Killer, não pertencer a seitas satânicas, nem ser bruxos com verrugas e sem uma perna), lá consegui raptar a gatinha, tirá-la do seu mundo de periquitos demoníacos, e levá-la à Feira-do-Livro.

Hoje, no blog da MWoman, ela fala sobre a não tomada de decisão: que mais vale decidir uma coisa errada do que pura e simplesmente não decidir nada. E dos medos que as pessoas têm em efectuar escolhas, em decidir.
Na minha vida profissional, a toda a hora tenho que decidir, a bem ou a mal, mas não posso ficar inerte, sob pena de falhar completamente.
Na minha vida pessoal não tem sido assim: racionalizo demais, analizo em excesso, e perco-me em pensamentos (se bem que, olhando para trás, as coisas mais importantes da minha vida foram decididas sob stress, em pouco tempo, e com sucesso).
Ontem não - o impulso, a intuição, a necessidade de não estar sozinho (e o facto de estar possuído pelos demónios - endiabrado), levaram-me a agir.
Claro que do outro lado alguém teve coragem e tomou também uma decisão por impulso, na hora.
E em boa hora o fizémos!

Podia ter sido um fracasso? Podia. Podíamos não ter assunto para falar, podíamos ser execráveis ao olhar do outro, podíamos nunca mais visitar os blogs um do outro no futuro. E isso era grave? Grave seria não o fazermos, e nunca saber!

Houve um pedido de ajuda e alguém respondeu.
E, sendo totalmente egoísta, salvou o meu dia!

E vocês, como estão de impulsos? ;-)

sexta-feira, maio 28, 2004

O Barqueiro


Na 1ª manhã em Jericoacoara, depois de um pequeno almoço divinal tomado bem junto à praia, debaixo de uma árvore imensa, trocámos o jipe pelo buggy e lá fomos nós à aventura.

Primeiro seguimos pela praia, bem cedo, atingidos por uma chuva miudinha misturada de areia pelo vento, que aleijava a cara, e impedia a visão total da paisagem.

Passámos por vários grupos de pescadores, alguns já com o resultado da sua pescaria, quer fossem camarões ou raias enormes já esquartejadas, prontos a vender ou mesmo a consumir (tinham fogareiros ali ao lado, não sei se para o petisco, se para aquecimento). Mas a chuva não nos deixou parar.

Chegados a uma das aldeias de pescadores, virámos para o interior, em direcção às dunas gigantes que se perfilhavam já no horizonte.

Que dizer? Imaginem um deserto de areia, aos altos e baixos, mas aqui e ali pequenos oásis de coqueiros e outras árvores, arbustos e pequenos lagos.
De início o nosso condutor acelerou ao máximo pela trilha, fazendo-nos saltar ininterruptamente, agarrados com a máxima força aos varões do buggy.
Mas depois dirigiu-se para uma duna imensa à nossa frente e subiu-a a custo, cada vez mais lentamente até chegar ao topo.
Lá em cima deparámo-nos com o precipício: a duna descia quase a pique, e nós com ela - o tipo engatou uma mudança e lá fomos nós!
"- Quais montanhas russas, quais quê - isto é que é radical!!!" - gritava o meu colega do lado, cheio de areia na cara.
A esta seguiu-se outra e outra, mais pequenas, mas com o mesmo efeito.

Até que finalmente chegámos àquela que nem o buggy poderia enfrentar: a sua descida acabava numa lagoa (a lagoa do coração, chamada assim devido à sua forma).
E lá fomos nós, um a um, sentados numa prancha de madeira, fazendo esqui na areia, acabando com um mergulho nas águas cálidas da lagoa.
Depois de umas braçadas e uns mergulhos, faltava o mais difícil: subir a pé aquela imensa massa de areia - uma eternidade!
Por piada, o pessoal que alugava a prancha dizia que a descida custava 3 Reais (+- 1 Euro), mas a subida era oferta (LOL).

Eis-nos de novo em marcha, de buggy, em fila indiana, em direcção à próxima paragem: Lagoa Azul.
Agora deixáva-mos o mar e as dunas para trás, e entrávamos numa área mista, com o chão de areia, mas povoada pelas mais diversas espécies de flora e fauna, e sempre com as águas de uma qualquer lagoa por perto.
Chegados à margem da Lagoa Azul, abandonámos o buggy.
Agora era preciso chegar a uma ilhota paradisíaca que existia no meio do lago de águas azuis transparentes. Para isso, teríamos que ir a nado ou apanhar a barcaça ali existente. E foi isso que fizémos.

Para quem leu Gil Vicente ("Auto da Barca do Inferno") ou estudou a mitologia grega, a ideia de uma barca que atravessa um curso de água para chegar a um destino semi-desconhecido (sabemos o que é mas não como é), tem todo o cabimento aqui - e foi essa associação que fiz de imediato ao ver aquele barqueiro (o nosso Caronte, súbdito de Hades).

Era uma figura inesquecível: de estatura média, super-musculado no tronco e braços, mas com umas pernas atarracadas; a pele vermelha/ocre engelhada pelo excesso de sol; a boca rasgada - imensa, de dentes amarelos enormes, com os lábios gretados do calor; e uns óculos escuros modernos, desses que se vendem nas praias, que impediam de ver a cor dos seus olhos. A rematar, um chapéu à Indiana Jones!

Nunca disse uma palavra nas quatro viagens que teve que fazer para passar toda a gente, embora murmurasse no regresso vários palavrões, devido à luta titãnica que levava a cabo com a corrente e ao peso excessivo da barca carregada de turistas.

Já depois da travessia do meu grupo, enquanto esperava pelos outros, olhava para o meio da lagoa, para aquela barcaça cheia de gente, impulsionada pelo esforço sobre-humano daquele homem e da sua vara que me parecia frágil demais para aquele serviço, e pensava como era irónica a semelhança com a mitologia, excepto a parte final: é que não nos estávamos a dirigir para o Inferno mas para um pequeno Paraíso na Terra.