segunda-feira, junho 21, 2004


Quando era miúdo e andava à bulha com outros miúdos, havia sempre uma altura em que prendíamos o outro (ou ele a nós) e se fazia a famigerada pergunta:
- "Desistes?"

Se a resposta era não, continuáva-se a apertar, a bater ou a fazer algo tão extremo que o outro (ou nós) tinha mesmo que dar o braço a torcer:
- "Desisto!"

E tudo acabava ali.

Nos últimos meses, estas perguntas e respostas entram quase diariamente na minha vida, mas até agora respondi sempre:

- "Não! Não desisto!"

Até quando?

Em que altura decidimos que é chegada a hora de desistir?
Quando em vez de tal luta nos dar prazer nos começa a dar mau-estar?
Quando o sofrimento é atroz?
Quando a luta em si já não nos diz nada?
Quando até estávamos a ganhar mas isso já nem importa?

Porque é que se decide que é chegada a hora de abandonar a luta?
É por covardia? Por a luta em si nos assustar?
É por medo de nos aleijarmos mais?
É porque sabemos que somos mais fortes e não queremos magoar o outro?

Como se toma tal decisão?
Como se diz à outra pessoa:
- "Desisto! Já não sou capaz de argumentar. Ganhaste!"

E se nesta luta ninguém ganhar?

E se o que estiver em causa é sempre uma derrota, independentemente de ser um ou outro a desistir?

Ou será que a desistência é uma vitória para ambos, uma vez que a luta acaba e assim o sofrimento que ela nos provoca também?

- "Desistes? ...E isso faz-me feliz?"