A Última Noite
A noite em Jeri tem dois ou três locais de eleição (atenção que esta não era a época alta - talvez noutra altura seja bem mais activa).
O primeiro é um barzinho mesmo de frente para a praia, onde, após subirmos umas escadas de madeira, acedemos a um terraço a céu aberto, com bancos de pé alto e um balcãozinho a toda a volta da estrutura, contemplando o mar, a rua, ou os coqueiros. É uma área onde se pode falar e beber, acompanhados por uma música variada mas sempre com o volume baixo, sem perturbar as conversas, e mesmo deixando ouvir a música do bar ao lado.
Foi neste bar que descobri as músicas "Proíbida pra mim" e "Babylon" (esta última que associei de imediato ao Blog da MJM), cantadas por Zeca Baleiro (que então desconhecia). A guia tratou de me inteirar de todo o percurso deste autor e de outro, Zeca Pagodinho (será que todos eles são Zecas?), mais tradicional, com letras igualmente deliciosas, mais viradas para o samba.
O segundo local, mesmo em frente, no outro lado da rua que vai dar à praia, chamava-se "Planeta Jeri", e começava sempre com música ao vivo - sempre ao ar livre.
Nessa noite, após abandonarmos o terraço do primeiro, transferimo-nos para este e acompanhámos a voz quente e forte de uma mulata e do seu acompanhante, cantando êxitos vários (a pedido e tudo), de samba, bossa nova e pop brasileiro contemporãneo.
Depois da meia noite começava a pista de dança, já lá dentro, com as músicas internacionais do momento e com outras mais retro (ou talvez fosse a noite do Disco...).
Às 2:00 já não havia grupo: uns haviam regressado ao hotel há muito; outros ficaram sempre no outro bar; outros permaneceram neste último até ao fim (4:30/5:00); e outros decidiram experimentar algo.
Perto da entrada do hotel ouvia-se um outro tipo de música: forró!
"- Onde é o forró?" - perguntei à guia.
Cansada, disse-me que era aí a uns 100 metros dali, mais acima, já bem dentro da vila.
Não foi difícil convencê-la e às minhas colegas a ver como era: "- então, hoje é a última noite! O único forró que vimos foi o do Pirata, muito giro mas tudo trabalhado. Não querem ver o tradicional?" - e lá fomos.
Este terceiro local parecia um arraial de Sto António.
Tudo ao a céu aberto, havia uma zona de mesas para o petisco e para as bebidas, coberto por um frágil alpendre; uma zona de bar ao balcão; e a zona de dança, sem banda, mas com espaço reservado para tal.
Casais dançavam colados um ao outro, segundo o ritmo da música, mais calmo ou mais acelerado conforme o tema.
Numa área do topo, juntavam-se as moças à espera de par; os moços ficavam-se pelo bar.
E na pista, surpresa total, dois dos meus colegas que haviam desaparecido há muito lá debaixo, dançavam animadamente com duas locais! E que bem que eles estavam.
"- Aprende-se num instante!" - gritava-me um.
"- São só três passos" - dizia-me o outro.
Mas fiquei-me pelo bar, com o resto do pessoal. Já não aguentava muito mais.
Às 3:00 uma das colegas lembrou-me: "- Não te esqueças da chuva de meteoritos!"
Pois era. O barman do primeiro local dissera-nos que entre as 3 e as 4:00 ia haver uma chuva de meteoros visível em toda a costa do Brasil.
Voltámos para a praia, deitámo-nos na areia, e olhámos o céu, espectantes.
"- Alguém trouxe as caipirinhas?" - ouviu-se. Todos riram. Mas tinham mesmo trazido!
Foi uma chuva muito fraca, aqui e ali passavam umas fugazes estrelas cadentes - nada de extraordinário ou de apocalíptico como eu estava à espera.
"- Sabem que se olharmos para este céu e imaginarmos que o estamos a ver de cima e não de baixo, ficamos com a sensação de que estamos a flutuar no espaço?" - afirmei.(*)
Ouve um momento de silêncio, como se estivessem a testar a minha teoria, e depois os comentários vieram em força:
"- Isso já são as caipirinhas a fazer efeito!"
"- Vê lá se flutuas até à cama, que eu não me consigo levantar!"
"- Tens razão!!!"
"- 'Tás é a ver estrelas!!"
Não me lembro como fui para o hotel, mas sei que acordei por volta das 8:30, com uma bela dor de cabeça, na minha caminha (cheia de areia!), e ainda de chinelos nos pés...
Depois disto tudo, após uma manhã de compras nas lojinhas da vila, regressámos de autocarro ao Resort original (a sul de Fortaleza), após 7 horas de caminho, quase sempre a dormir. À noite fizémos ainda uma festa de homenagem ao Chefe pela organização desta viagem, onde fui eu a botar discurso.
O dia seguinte, o último da nossa estadia no Ceará, passou-se já sem aventuras para vos contar, só a preguiçar estendido ao sol, mergulhando nas águas quentes da piscina, e saboreando as últimas capirinhas...
Este foi o meu último post sobre a viagem ao Brasil. :-)
PS: (*) isto é mesmo verdade - experimentem, mas num sítio onde não haja luz de candeeiros de rua. Depois digam-me se não é mesmo assim. ;-)
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