sexta-feira, novembro 26, 2004

Aventuras de Pedro, Sentado


Sentado,
O queixo apoiado na sua mão esquerda
A mão direita pousada sobre as pernas trocadas
E a caneta
E o bloco
E palavras acabadas de escrever
E reticências...
E pontos de interrogação?

Sentado,
Olha o Infinito
Infinito restrito às quatro paredes do quarto
E o papel de parede caindo verticalmente de alto a baixo
E a madeira em rectas, no tecto
E o candeiro luminoso no centro
E a música...
A música do rádio deixado no chão
- Os sons estereotipados do momento
E, de repente,
O silêncio
...Que não acontece!
A música continua
E ele continua

Sentado,
Os olhos fixos no nada
E a estante
E os livros
As palavras escritas pelos outros
E a mesa de cabeceira
E as fotografias
E as palavras nunca ouvidas

Sentado,
A caneta imóvel
O bloco vazio
As palavras que não existem
E o cérebero delira textos nunca escritos
E que nunca ninguém lerá
E a boca declama poemas nunca ditos
E que nunca ninguém ouvirá
E que nem ele recordará daí a pouco

Sentado,
Sonha de olhos abertos.

Sentado,
Dorme acordado.

Sentado,
Vive morto.

PO 01/1990