Aventuras de Pedro, Sentado
Sentado,
O queixo apoiado na sua mão esquerda
A mão direita pousada sobre as pernas trocadas
E a caneta
E o bloco
E palavras acabadas de escrever
E reticências...
E pontos de interrogação?
Sentado,
Olha o Infinito
Infinito restrito às quatro paredes do quarto
E o papel de parede caindo verticalmente de alto a baixo
E a madeira em rectas, no tecto
E o candeiro luminoso no centro
E a música...
A música do rádio deixado no chão
- Os sons estereotipados do momento
E, de repente,
O silêncio
...Que não acontece!
A música continua
E ele continua
Sentado,
Os olhos fixos no nada
E a estante
E os livros
As palavras escritas pelos outros
E a mesa de cabeceira
E as fotografias
E as palavras nunca ouvidas
Sentado,
A caneta imóvel
O bloco vazio
As palavras que não existem
E o cérebero delira textos nunca escritos
E que nunca ninguém lerá
E a boca declama poemas nunca ditos
E que nunca ninguém ouvirá
E que nem ele recordará daí a pouco
Sentado,
Sonha de olhos abertos.
Sentado,
Dorme acordado.
Sentado,
Vive morto.
PO 01/1990
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