quarta-feira, outubro 27, 2004

Temporal


Os meteorologistas até tinham avisado, mas eu ando sempre distraído: raramente presto atenção ao "manda-chuva"; quase nunca retenho a informação da rádio; e só sei que vai chover quando as primeiras gotas me atingem e descubro que não trouxe chapéu.

E foi por isso que não dei por ele chegar, o Temporal.

Apanhou-me (mais uma vez), desprevenido, sem capa, chapéu-de-chuva, ou roupa quente.

Veio do passado e, como um ciclone, rasgou as folhas de memórias passadas e atirou-mas à cara.

Sem dó nem piedade, atingiu-me no mais íntimo do meu ser, alheio ao facto de estar abrigado, feliz na família e de trabalho ocupado.

O vento forte derrubou-me, deitou-me ao chão.

A chuva fria ensopou-me até aos ossos, gelando-me o coração.

E a trovoada ensurdecedora, com os relâmpagos fulminantes, atingiu-me em cheio, paralizou-me, sem qualquer razão.

Pior que uma tempestade que se adivinha ao longe, é um temporal inesperado - uma tromba-de-água - um tufão.

Nos últimos tempos pareço uma América do Norte continuamente batida por tempestades ciclónicas de nomes anglo-americanos, ou um Japão sempre à mercê de maremotos, terramotos e afins:

- as minhas orlas marítimas são periodicamente visitadas por dúvidas parvas e ciúmes doentios;

- e o meu interior campestre desertifica-se e morre de sede, atingido por secos sentimentos e contínuas faltas de amor.

Sei que até os mais fortes furacões passam depressa, dando lugar à bonança.

Mas quando voltará o Sol a brilhar para mim?