domingo, junho 27, 2004

Mãe


A minha Mãe fez anos no Sábado: 62!

Sem dizer nada, e apesar de uma manhã de ressaca, reuni as tropas e lá fomos todos (filhos e esposa), depois do almoço, à região de Torres Novas, onde mora com o meu pai.

Comprámos um bolo numa pastelaria lá da terra e lá surpreendemos uma mãe super-feliz e chorosa de alegria. Cantámos os parabéns na hora do lanche e à noite fomos jantar fora.

Entre ontem e hoje, antes de voltar a Lisboa a meio da tarde, dormi duas sestas, tomei dois banhos refrescantes no tanque do poço, chateei o cão, comi duas laranjas dulcíssimas que ainda sobraram da Primavera (e que a minha mãe guardou para mim), estendi-me na rede debaixo das duas laranjeiras, e deixei-me perder por várias vezes na contemplação da vegetação, das aves, do céu... Enfim, voltei à minha infância.

Os meus filhos não me chateiam muito (e não querem que eu os chatei a eles!).
Com quem partilho a vida de casado (não é segredo, pelos meus posts) tenho alguns períodos muito maus - mas estes últimos dias foram muito bons!
Os meus pais não pedem nada - só me dão! Tento retribuir como aqui tenho demonstrado.

E eu, já não tenho dúvidas (e dias como estes assim confirmam), sou aquilo que alguém um dia me chamou: Menino Grande.

(Ver Post 27 de Março)

Sexta à noite


Na sexta-feira passada houve jantar da empresa.

Fomos a um restaurante brasileiro (tinha que ser...), em Sintra, para reavivar as memórias da nossa ida ao Brasil, assistindo à projecção do vídeo que um colega se deu ao trabalho de registar durante a viagem.

Foi giro, mas não foi "muuuito giiiro"...

Depois, já perto da uma da manhã, um grupo restrito rumou a Alcântara, tendo como destino o Blues. Ainda estava um ambiente calmo quando chegámos, mas foi bom porque deu para estar um bocado a falar.

Depois começou o barulho e lá descemos para a pista. A meio da noite o grupo estava reduzido a quatro (dois eles e duas elas), mas também, quem é que estava a contar? A qualidade de quem estava é que interessava - e essa era muito boa (em todos os sentidos).

Estava muito calor. Estava já muita gente nessa altura (muitos franceses e alguns gregos - do jogo da noite anterior). Acabámos por passar os últimos largos minutos na esplanada, ao ar livre, a falar de tudo e mais alguma coisa.

Um colega tardio juntou-se-nos já no final e desafiou-nos para ir ali mesmo ao lado, ao Docks.

Confesso que resisti um bocado. Não estava muito virado para ali. Não era decididamente a minha noite. Estava ali mas a minha cabeça não. Não gozei muito, devo dizer. Estive quase sempre absorto, aéreo, ausente. Mas lá acedi. Uma das colegas desistiu e já não foi.

Estava impossível: era Ladies Night no Docks. Já não havia vodka! E a fila para pedir qualquer outra coisa não tinha fim. Mas lá conseguimos. Mais uma vez, os estrangeiros abundavam. Não vale a pena confirmar que estava apinhado de mulheres (míudas, na sua maioria). E a música estava muito boa.

A última colega resistente decidiu ir embora e eu saí com ela, abandonando os meus camaradas à sua sorte numa discoteca em noite de ladies (pobres rapazes, ainda não tive notícias deles...).

Estando ambos com fome (eram 5 da matina), parámos para comer um cachorro antes de regressar a casa. A noite estava quente e o céu estrelado. Falámos do jantar e de uma ou outra coisa sem importância. Nada mais.

Não era a minha noite, não estava para ali virado.

E o facto de ser "aquela" colega, uma amiga, alguém com uma situação pessoal muito semelhante à minha, com quem já falámos de tudo e de quem sabemos que as coisas ainda não estão bem, tiram a vontade de falar de coisas pessoais.
A última coisa que queremos é despertar os demónios (da outra pessoa e dos nossos!). E os meus já me tinham impedido de tirar partido dessa noite na sua plenitude.

Além disso, tinha-lhe dito que eu nunca iria puxar pelo assunto - quando quiser falar disso, há-de ser ela a dizer. Mas sabe que estarei lá para ouvir. No entretanto, falamos das coisas boas (mas ficarão sempre os olhares, os gestos, o comportamento diário para dar a entender se se está bem ou menos bem).

Força amiga! Beijinhos e até segunda!

sexta-feira, junho 25, 2004

Viva Portugal!


Seria impossível escrever algo triste hoje.

A verdade é que, mesmo que não tivesse vibrado que nem um louco ontem à noite, hoje seria impossível não partilhar do contentamento geral dos Portugueses.

Foi um jogo louco, pleno de emoção até ao fim.

Mas acho que é um pouco mais do que o simples jogo de futebol que nos está a causar esta alegria colectiva.

Acho que o sentimento geral dos últimos tempos dos Portugueses era de tristeza, depressão, preocupação, derrotismo, decepção e falta de confiança no Futuro.

E o começo deste Europeu não ajudou: após o jogo com a Grécia lá vieram os Velhos do Restelo clamar que bem tinham avisado, que Portugal isto e Portugal aquilo, e que não íamos a lado nenhum.

Por algum motivo, o simples facto de termos anulado estas previsões pessimistas tão nossas, ainda nos deu mais alento do que a simples constatação das vitórias entretanto acontecidas.

Foi como se o lado bom de nós próprios tivesse vencido o lado mau de nós próprios.

No fundo não derrotámos a Rússia, a Espanha e a Inglaterra - derrotámos o nosso alheamento, o nosso pessimismo, a nossa triste fatalidade para o infortúneo.

Anulámos o Portugal que há algum tempo estava a definhar, com o Portugal que nos enche de orgulho, glória e capacidade de lutar contra a adversidade.

Seria impossível estar tão contente com apenas um jogo de futebol.

A multidão que ontem e esta madrugada andou nas ruas aos milhares, não ganhou nenhuma a taça (ainda?) - o que estavam a comemorar, então?

Muito simplesmente: a vitória dos seus próprios fantasmas.

Independentemente do que possa acontecer a partir de agora:

Viva Portugal!

quarta-feira, junho 23, 2004

É minha, a culpa?


Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...



Florbela Espanca, "Minha culpa"



segunda-feira, junho 21, 2004


Quando era miúdo e andava à bulha com outros miúdos, havia sempre uma altura em que prendíamos o outro (ou ele a nós) e se fazia a famigerada pergunta:
- "Desistes?"

Se a resposta era não, continuáva-se a apertar, a bater ou a fazer algo tão extremo que o outro (ou nós) tinha mesmo que dar o braço a torcer:
- "Desisto!"

E tudo acabava ali.

Nos últimos meses, estas perguntas e respostas entram quase diariamente na minha vida, mas até agora respondi sempre:

- "Não! Não desisto!"

Até quando?

Em que altura decidimos que é chegada a hora de desistir?
Quando em vez de tal luta nos dar prazer nos começa a dar mau-estar?
Quando o sofrimento é atroz?
Quando a luta em si já não nos diz nada?
Quando até estávamos a ganhar mas isso já nem importa?

Porque é que se decide que é chegada a hora de abandonar a luta?
É por covardia? Por a luta em si nos assustar?
É por medo de nos aleijarmos mais?
É porque sabemos que somos mais fortes e não queremos magoar o outro?

Como se toma tal decisão?
Como se diz à outra pessoa:
- "Desisto! Já não sou capaz de argumentar. Ganhaste!"

E se nesta luta ninguém ganhar?

E se o que estiver em causa é sempre uma derrota, independentemente de ser um ou outro a desistir?

Ou será que a desistência é uma vitória para ambos, uma vez que a luta acaba e assim o sofrimento que ela nos provoca também?

- "Desistes? ...E isso faz-me feliz?"

sexta-feira, junho 18, 2004

É impossível ser feliz sozinho?


Vou te contar,
Os olhos já não podem ver,
Coisas que só o coração pode entender,
Fundamental é mesmo o amor,
É impossível ser feliz sozinho.

O resto é mar,
É tudo que eu não sei contar,
São coisas lindas que eu tenho pra te dar,
Fundamental é mesmo o amor,
É impossível ser feliz sozinho.
(...)


Vou te Contar (Excerto), Tom Jobim.

Estou a repetir-me pois já tinha publicado esta letra logo no início do meu blog.
Mas faz sentido para mim colocá-lo hoje de novo.

E, para quem gosta de desafios, agradeço a resposta à pergunta.

Beijos e Abraços!
;-)

segunda-feira, junho 14, 2004

Soneto do maior amor


Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da vida eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.


Vinicius de Morais, Oxford, 1938

...Mas podia ser meu e escrito hoje, aqui...

Se me dissessem isto de outra pessoa, diria que era doente ou desequilibrado...

Talvez o seja...
Talvez aquela cabeçada no chão quando era puto me tenha afectado.
Não encontro outra explicação...
E isto num tipo racional como eu, é lixado...

;-)

domingo, junho 13, 2004

Semanário


Bem, cá estou eu de novo.

A semana que passou foi extremamente variada, interessante e... complexa.

No Domingo passado parti para Varsóvia, capital da Polónia, onde estive 2ª, 3ª e 4ª em reuniões de trabalho e apresentações super chatas. Até os jantares nos restaurantes locais foram fracos (embora o último tivesse escapado à regra). Valeu a companhia.

Na 5ª fui para Tróia, onde estive até esta manhã com a família. Passámos uns belos dias, com muito sol, muita água e alguma descontração. E não pareceram apenas 3 ou 4 dias - foi tudo muito bem aproveitado, deixando-nos com a sensação de plenitude.

Só que pensei que voltaria renovado e pronto para dois meses que se afiguram difíceis, antes das férias de Agosto, e afinal estou irritadiço, pensativo e de mau-humor.

Mas ao menos estou com um bom bronze! (lol)

Enfim, nada que uma boa semana completa de trabalho árduo não cure.

Para não vos contagiar com o meu estado de espírito, fico por aqui.
Prometo que voltarei assim que tiver algo mais para dizer para além de conversa de circunstância.

Obrigado por manterem o Spot Me! vivo! ;-)

sábado, junho 05, 2004

Vivendo...


Pois, não morri!

Nem estive a morrer... (Mas não estamos todos a morrer desde que nascemos?)

Foi apenas um acidente de percurso, esta semana.
Atravessou-se na minha alegria, na minha excitação, na minha ressaca, na minha ingénua felicidade de menino grande.

A Vida tem destas coisas e, como foi ela que me chamou, presumo que estou mesmo vivo, embora os últimos posts dessem a entender o contrário.

Mas se é esta a vida que me chama, o que será a morte?

O pior inferno que me poderia ser dado como pena dos meus pecados, seria um local não de sofrimento físico mas psicológico: um inferno de ignorância; de desprezo; de acções rotineiras e inconsequentes; de burocracias sem sentido; de filas; de encontrões; de arranjos em casa; de reuniões de pais; de conversas sobre o tempo...

Mas pronto, ela chamou e eu cá estou. Sempre a dar o máximo.

E amanhã lá vou eu de novo para fora do país, em trabalho.

Portanto este blog vai ficar parado durante uma semana.

Ou não?
Sei que pareço algo distante ultimamente, mas agradeço sempre a vossa visita e, se assim entenderem, o comentário.

Neste sentido ele não ficará parado, claro.

Estará vivo.

Como eu...

Até para a semana!

sexta-feira, junho 04, 2004

Morrendo... IV


Órfão de Pai
E de Mãe,
Desloco-me
Num vai e vem,
Vagueando
Pelos céus.

E o Tempo
Vai correndo,
E lentamente
Morrendo,
Em vão aceno
Um adeus!

PO 6/2004

quinta-feira, junho 03, 2004

Morrendo... III


Irmão da fecunda
Terra
Minha alma chora
E berra,
Pela vida
Vagueando.

Mas minha irmã
É tão fria
Que apenas
Me desafia
E aos poucos
Me vai matando.

PO 6/2004

quarta-feira, junho 02, 2004

Morrendo... II


Filho do Sol
Intenso
Procuro em tudo
O que penso
Um motivo
Para viver.

Mas o meu pai
Não me entende,
Antes me queima
E ofende,
E mais me ajuda
A morrer.

PO 6/2004

Morrendo... I


Filho da Lua
Brilhante
Percorro o mundo
Num instante
E para a noite
Vou correndo.

Mas minha mãe
Está distante
E eu, num sofrer
Desesperante,
Aos tropeções
Vou morrendo.

PO 6/2004

terça-feira, junho 01, 2004

Dia da Criança


Para quem me lê desde o início, sabe que tenho dois filhos: uma menina de 13 e um menino de 7.

Não falo muito deles por aqui - quando digo que este é o meu espaço, o meu diário, falo mesmo a sério: é mais sobre eu, o meu coração, a minha alma.

Mas por isso mesmo, porque são pedaços de mim, estão no meu coração e me alegram a alma, hoje tenho que falar deles.

Seria inútil dizer que são os mais lindos à face da Terra.
Primeiro porque para mim seria declarar o óbvio; segundo porque para quem está de fora seria um exagero - os mais lindos são os vossos (se os
tiverem).

Dizer que são inteligentes como o Pai e bonitos como a Mãe seria mais uma vez exacerbar aquilo que realmente são e que não devem nem a um nem ao outro - são assim porque os Deuses assim o quiseram, e serão tanto mais inteligentes quanto mais se dedicarem a isso, independentemente da orientação que nós façamos.

A minha filha está naquela idade dos telefonemas sem fim, da música alta e barulhenta, da introspecção, da mutação física e dos seus efeitos, da independência, do isolamento, da crítica, do humor negro, da resposta fácil, do confronto, enfim, uma adolescente completa!

Adoro-a! Gosta de desenhar e escrever (como eu), e é toda virada para as belas artes (com um ênfase temporário, espero, para a BD Manga Japonesa). De resto, é ela a responsável por eu estar tão actualizado em relação à música contemporãnea; e é com ela que tenho as conversas mais interessantes sobre tudo e mais alguma coisa.

O meu filho está na idade de jogar à bola, andar de bicicleta, jogar gameboy, de não conseguir estar parado, de me roubar o computador a toda a hora (sim é ele que entra e sai do Messenger e vocês ficam a pensar que eu vos vi e saí logo para não me falarem...), de fazer perguntas sem fim, de implicar com a irmã, de querer saber tudo sobre os carros, ou seja, um puto super activo (mas não hiper-activo)!

É o meu companheiro. Quando eu estava mais em baixo aqui há dois ou três meses, era com ele que eu ia sair ou jogar à bola. Ou com quem me sentava no chão a brincar, durante horas e horas. É sempre dele que me lembro quando estou no estrangeiro e vejo algo que acho que ele gostaria de ter (e, sempre que posso, trago-lhe essa coisa). A sua preferência, nesta fase da vida, vai para a música: aprende sozinho a tocar melodias no seu pequeno piano digital (aqui acho que sai à mãe).

Ambos têm boas notas e bom comportamento na escola.
Para além das maleitas do costume, nunca tiveram grandes problemas de saúde.
Em casa ajudam sempre que isso lhes é solicitado; intervêm quando acham que têm algo a dizer (e são ouvidos); são bestialmente críticos em relação a tudo o que acham que não está bem, e desmesuradamente doces quando sentem que devem apoiar ou quando necessitam de algo mais.

Materialmente nunca lhes faltou nada. Talvez a minha filha tenha demorado mais tempo a adquirir algumas coisas, mas isso tem a ver com a progressão da vida, com a minha carreira, com o ambiente à volta da família. Para o meu filho aparentemente é tudo mais fácil no que diz respeito a conseguir o que pede, pois hoje as coisas estão mais estáveis economicamente.

Por sua vez, psicologicamente, ela é mais forte que ele. Ela apanhou toda a era da felicidade no lar - ele já assistiu a algumas (grandes) discussões, e afastamentos. Mas também eu assisti a grandes desavenças entre os meus pais e isso só me ajudou na vida, por muito traumático que possa ter sido na altura.

O que interessa é que, no meio de tudo, independentemente das crises, continuamos a ser uma família! Unida, aberta e feliz!

Feliz Dia da Criança, filhos!