Como será amor em língua cibernética?
Hoje não tive electricidade em casa, de manhã.
Acordámos com a luz do dia; fizémos o pequeno almoço recorrendo a métodos mais arcaicos; saboreá-mo-lo sem interferências: sem TV, rádio, nem telefone (que também já depende da corrente eléctrica).
Li vários capítulos do meu livro de cabeceira e brinquei com o meu filho (e não foi a jogar playstation ou computador!).
Por volta do meio-dia a energia voltou.
Liguei o PC e comecei a visitar os vários blogs amigos.
E no blog da Maria (vão lá ver!) estava um poema do António Gedeão que fala acerca da memória que as gerações vindouras terão de nós.
Fala essencialmente de uma coisa: se acontecesse uma hecatombe nuclear - se a humanidade desaparecesse por completo - quem transmitiria a nossa história?; que fósseis deixaríamos?; que vestígios poderia a nova raça pesquisar para saber o que nós pensávamos e sentíamos? Como entenderiam o Amor?
E no fim deixa a seguinte questão: Como será amor em língua cibernética?
Num mundo escravo da energia, com cada vez mais informação arquivada em suportes digitais e magnéticos, quando ela faltar o que nos restará?
O A.G. tem razão para as suas dúvidas, mas esta nossa dependência de energia tem destas coisas: por vezes ela falta; por vezes há avarias; por vezes acidentes; por vezes simples manutenções.
Por vezes regressamos às origens - ler livros, ver fotos antigas, passear, falar, ouvir, namorar! - e nessas alturas os mais novos apercebem-se que a modernidade nada mais é que uma outra forma de fazer as mesmas coisas.
É importante passar estas coisas de pais para filhos, uma vez que a genética ainda não o consegue (talvez um dia - mas espero que não).
Quanto ao futuro, se outros seres (para além dos humanos extintos) quiserem saber o que pensávamos, sentíamos, fazíamos - terão a mesma dificuldade que nós sentimos hoje em relação aos dinossauros: sabemos como eram, como agiam, como viviam - mas saberemos alguma vez o que sentiam e como pensavam? (e o amor ?)
E não será isso um segredo que cada um de nós quer guardar?
O que queremos que se saiba deixamos escrito ou gravado num qualquer suporte - e do Amor e da Guerra a humanidade deixa mais vestígios do que de qualquer outra coisa!
O que não queremos, morre connosco - para sempre.
Nada de mal nisso.
PS: há um filme delicioso do Kubrick e do Spielberg (IA -inteligência Artificial), em que o último vestígio da mente de um ser humano está no cérebro de um robô (um menino), e os ETs conseguem usar essa memória e um fio de cabelo humano para permitir um último desejo desse último representante da humanidade: o viver mais um dia com a sua mãe adoptiva - a pessoa que mais amava no mundo.
Quem não gostaria de ter um último desejo destes antes de se apagar por completo?
:-)
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