Chuva
Antes ficava triste quando chovia e o vento soprava com força.
Era um dia perdido, para mim.
Não tinha vontade de fazer nada.
Ficava melancólico.
Sentia-me só.
Se tinha que ir trabalhar ou estudar, era um sacrifício.
Se ficava em casa, o tempo esgotava-se sem que fizesse algo de proveitoso.
Às vezes ficava à janela a olhar lá para fora.
Era talvez a única coisa que me fazia sentir melhor.
Mas acabava por ficar deprimido.
Hoje está um dia desses.
Feio, chuvoso, ventoso e frio.
E no entanto lá fui para o trabalho de manhã.
E lá tive uma apresentação a clientes à tarde.
E aqui estou a escrever sobre o meu dia.
Ontem a esta hora ainda estava em Paris.
Chovia também.
Estava pior que aqui.
Mas não me senti pior por isso.
Aparentemente o clima passa-me ao lado.
Aparentemente não dou por ele.
Ignoro-o ou ele ignora-me a mim.
O Porto venceu ontem.
O Benfica está empatado com o Sporting.
O Carlos Cruz foi para casa.
Há 10 novos países na UE.
No Iraque continua a morrer-se.
Não me interessa.
As notícias não me dizem nada.
E eu não digo nada que seja notícia.
Estarei a ficar insensível ao mundo?
Será que nada cá fora me afecta?
Será que o real já não tem efeito em mim?
Pela primeira vez desde que comecei, até os blogs me pareceram fúteis.
Será que também o virtual já não me inspira?
Pareço um morto-vivo: o corpo aqui anda, mas a alma já não me habita.
Estou vazio...
...Ou é da chuva?
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